Estava escrito em uma linha.
Uma linha dessas sem término, que liga uma montanha à outra.
Havia de ter que sentir e assim se fez.
Mas no perceber, foi como um derramar de peças soltas para dentro de mim.
Como se balançassem tudo que aqui havia; um balanço feito das cordas que ligam as montanhas.
Foi um virar pelo avesso. E mesmo tentando, não mais conseguir desvirar.
Questionei o porque e disseram-me que não fazia parte do contrato.
Com voz grave informaram "é terminantemente proibido
e fora dos padrões, deixar de amar".





Derramo pelo vento cada tom de voz que aqui deixaste.
Tiro da sacola os tons todos; um a um jogo-os pelos ares da campina, lentamente, 
com os olhos fechados, para não ver os pedaços de ti que partem.
Junto vão as cores que vieram contigo, cores de outono, 
a cor dos teus olhos - e a sinceridade bonita que via neles e tanto gostava, 
entrega-se ao vento e parte também.
Os sons parecem preferir ficar, mas os lanço o mais longe que consigo. Pois agora o som bonito da tua risada e a calmaria da tua voz, soam atonais. 
Por fim viro a sacola pelo avesso, para que se houver ainda qualquer pedacinho de ti, ali escondido, não volte comigo para casa. 
Numa tentativa desesperada de parecer racional para as pessoas que me observavam pegando nadas com as mãos e jogando nadas ao vento, coloco a sacola no ombro direito e saio andando. Andando com a calmaria que só alguém com uma sacola vazia consegue ter.

É como se tu tivesses surgido (de novo) por trás de uma das centenas de montanhas que observo todos os dias; como o vento do alto dos picos, que leva embora minhas mágoas e me traz bonitas (e novas) lembranças. Às vezes és ventania e parte-me ao meio e levas um pequeno pedaço de mim
a cada adeus que sopras. Aprendi a lidar com isso de um modo bem meu, aprendi a ser vento e ventania, aprendi a ser sozinha.

Tudo é provisório

Dias de céu limpo e brisa suave são propícios para a constatação do óbvio. Muito principalmente sobre nossas próprias obviedades. Eles tendem a ser cheios de pequenas contemplações momentâneas, cheios de impressões de que a fé é doada em cada esquina - e que ela nunca há de nos faltar.
Encontra-te também nesses dias, a vontade do futuro: coragem construída para o que quer que esteja por vir. E até mesmo com o sol te cegando a visão, consegues entender que tudo ao teu redor é provisório. Inclusive os dias que parecem ser feitos para constatações. Inclusive o céu limpo e a brisa. Inclusive nós.

Para ter certezas

A inocência caminha em silêncio profundo.Tão imperceptivelmente que nem se sente ela, a cada hora, pendendo para um lado da corda bamba que é o coração.
Dizem que quando ela pende para o lado direito, tende a prejudicar inteiramente o corpo que habita. Isso porque acaba se segurando com todas as suas forças nos sentimentos que moram por aquelas bandas. Há boatos que segura-se com tanta força na confiança que até mesmo faz com que sintam que é possível se ter certezas. 
Não somos como nossos pais, nem como o jardineiro da casa do vizinho, nem mesmo até como o amor de nossas vidas. Não somos repetições de outras essências, nem deste nem de nenhum dos tempos que já existiram. Não somos nem mesmo repetições de nós mesmos.
Somos seres não comparáveis.
Não comparáveis,
mas ao mesmo tempo estupidamente óbvios.
Cheguei a conclusão que a capacidade que meus pensamentos tem de me desapontar são tão intensas que as decepções causadas por outros já não mais me abalam. É bom ter a certeza de que você tem a capacidade de causar sua própria ruína.

Uma boa razão que baste

Maria é o tipo de pessoa que pede razões para todos os acontecimentos
e não-acontecimentos, sempre uma mínima explicação para suas muitas interrogações.
Ela gosta de sentir seu coração quando o vê.
Apressa-se sempre em colocar a mão sobre o coração cada vez; coração fora do tom.
Ela gosta de observar as hipóteses no armário e brinca de encaixá-las quando perde o sono no meio da noite. Ainda assim, Maria se sente insatisfeita com sua coleção de razões, até arrisco dizer que trocaria todas elas por uma ou outra certeza.


Sou muita espera, milhões de esperas.
Uma despreparada pra qualquer tipo de privilégio.

Você não faz ideia, de como eu acho bonito
bonito de todas as formas
a forma com que você consegue captar os nuances, todos, do meu humor
é mais que isso
tão fácil
tu me entende
apenas gostando, você meio que
 sei lá
me lê
e agente nunca nem se viu

(pra guardar na memória, o dia em que me deram um escrito, meio que sem querer)
Vai lá, de novo;
ficar exposta até a raiz.
Vai lá, pagar pra ver;
pra ver que no final
só protelasse o inevitável.
Um afeto que não quer ser teu.

Pedrinha

Não consigo entender essa força misteriosa do universo, que faz com que as pessoas desenfreadamente abandonem seu orgulho próprio por alguém. Uns chamam de amor, eu não.
Amor é diferente. Amor é alegria, sorrisos, é sentir-se bem.
Sentir-se completo, nunca menor.
Amor é ver o sorrir no olhar, já de longe; é não perceber o tempo que passa, perder-se na contagem dos minutos, fazendo com que horas pareçam segundos; é rir sem motivo, rir com motivo, rir demais, rir mais do que devia; é não encontrar mais a força capacitadora de bloquear sorrisos, é sorrir só de ver sorrir; é ter medo de magoar, medo de não fazer-se presente, ou de estar presente demais, medo de perceber que não se fez o suficiente; é encontrar no outro, tudo que um dia buscou em si próprio; é dor que acomoda-se no peito quando se está longe; é o abraço que tira a graça de todos os outros abraços; é reparar manias, e encontrar novas depois de pensar que já se sabia todas; é lembrar a qualquer hora, por razão qualquer; querer contar sobre cada pedrinha que te cruza o caminho; é trocar e compartilhar sonhos; é sentir toda a felicidade deste mundo e de tantos outros.
Amor não pode e não deve, nunca,
fazer doer.


A sensação que o desapego causa é da maior estranheza.
Tu se vê liberto, preenchido por si próprio,
e vazio.
Sente a vida inteira como uma dessas montanhas
inexploradas e imensas. Se vê obrigado de uma hora pra outra, a ser inteiro sozinho.
Ao mesmo tempo, procura razões para o sorriso que não vem;
tenta ocupar o lugar do riso que não deseja mais ouvir,
com o barulho que as panelas fazem quando caem no chão;
(Por isso, acaba derrubando muitas panelas por dia.)
Quando noite, procura no vazio a tristeza
 e o apego que um dia existiu.
Percebe um apego ao apego.
E a total rejeição ao próprio desapego.

Capela Sistina

É isso que acontece: eu desmaio interiormente, esbarro no senhor que passa e que consequentemente esbarra num próximo, numa sucessão de 'esbarramentos' impressionantes. Em seguida, abre-se uma fenda no chão; o céu se parte em dois e torna-se o teto da capela sistina; as nuvens tocam o chão; as paredes desmoronam e vejo que as árvores que crescem perto do rio estão marchando com milhares de pássaros pousados em seus galhos. E as folhas secas das árvores agora são notas, que uma após outra caem em intervalos dissonantes. E os pássaros param de cantar e o vento desiste de soprar. E por um instante o ar parece não ocupar o seu lugar. E o infinito torna-se finito.
É, é isso que acontece. Mas é provisório, só até acostumar com esse jeito bonito teu de olhar.
Deu pra escutar a batida estranha do meu coração, o passo em falso que ele deu, a coreografia de sapateado inteira que ele resolveu dançar, quando te viu?
Deu pra escutar meus olhos estralando feito água em azeite quente; deu pra ver eles aumentando, brilhando feito sol poente?
Só perguntei por perguntar, porque eu nem me importo. Sem problema se não viu ou viu e fingiu que não viu, sem problema não ter escutado ou fingir não ter escutado. Não me importo se não sabes ou fingi que não sabes.
Acho que no fim, fico bem de saber que não sabes, ou de não saber se finges ou se sabes.



"E quando ela ri, eu tenho vontade de chorar. Não de tristeza, mas porque cada gargalhada é como uma nota musical que toca ao coração e faz querer dançar. 
Aprende que a arritmia que sente com ela é normal! E que a falta dela é um vazio igual à morte.
Espero que sejas tudo o que eu nunca fui. Espero que a trates bem.
Porque se lhe partires o coração vais perdê-la para sempre."



https://www.youtube.com/watch?v=I4hJxTIh5Pw


Olhos Fechados

Vejo teu rosto em todos os rostos do mundo. Mesmo naqueles rostos mais esquecidos, de gente apressada, que passa caminhando com os olhos fixos no chão. Vejo de maneira superficial muitas vezes, só pra amenizar a saudade de sentir a calma que teu semblante trás.
Consigo ver o modo como tu sacode o cabelo e o jeito teu de andar também. Agora, esse par de olhos azuis que acalmam e incendeiam, que guiam e fazem perdido, que tiram as medidas da alma, esses eu não consigo encontrar em outro lugar que não em ti.

Essa sólida ausência, que passa por fraca monotonia.
Essa ilusão da consciência que se transforma em agonia.
Essa vontade agora multiplicada, de ser instrumento e compositor da peça inteira, de não ser apenas uma sombra de si mesmo, que se contenta em vivenciar o que lhe compuseram.
Essa vontade de compor sua própria vida sem prelúdios, sem dissonâncias, sem exigências do princípio ao fim.

Insuficiente II

Alguém que conte a minha história estranha e insuficiente.
Não de amor, nem de lágrimas, insuficiente de final feliz,
insuficiente de tudo que eu pensei ser o suficiente.
Insuficiente por não ter na vida minha, a vida que pensei que seria nossa.
Só espero de quem contá-la, que conte-a bem.
Espero que a conte mais minha do que de qualquer outro, como
recompensa por essa minha história estranha e insuficiente.

O Amor Acontece Assim

O amor acontece, assim. Assim, sem noticiar antes. Numa esquina, por exemplo. Em um sábado chuvoso em que os planos nem incluíam sair de casa; na fila da lanchonete, na escolha aleatória de um café; no meio de uma multidão; depois de um dia triste, no banco de um jardim; de repente no meio da fumaça, tu encontra alguém.
Acontece também por causa de cinco minutos de atraso, que consequentemente te levam a passar na mesma rua de sempre cinco minutos depois ou por uma parada na banca de revistas. Numa insônia estranha que te leva pra fora de casa de roupão e chinelos de pano; entre o creme e a baunilha, na sorveteria da praça;  na parada brusca do elevador; na fila da vacina; nas poucas sílabas distantes em uma reunião; num pequeno hotel no sul da Itália ou em alguma rua empoeirada de Dubai. Ali o amor pode ser, acontecer, ter fim e ressurgir.
Simplesmente, em um domingo de sol na beira da piscina; entre o pólen das flores; na compra de um ar-condicionado; no quinto museu do roteiro de viagem; no ônibus; na primeira viagem de trem, na segunda, quem sabe até na terceira; numa sala pintada com tinta esmaltada; num momento desesperador; no meio de um ataque de soluços (que se enquadra perfeitamente em um momento desesperador); na conjugação errada de um verbo; no mar gelado; no florir da primavera; na manhã do dia três de agosto ou no entardecer de trinta e um de janeiro; numa sala de espera; num olhar curto; no momento em que um riso te desarma, não importa.
O amor é sempre tão você-não-tem-o-direito-de-escolher. E não tem mesmo. O amor acontece, assim. Assim, sem noticiar antes.



E no final do meu sonho, nós saberíamos que temos o resto do tempo que o mundo nos proporciona, para descobrir todos os motivos, pequenos fatos e características, que nos fazem sentir como se não pudéssemos viver longe um do outro.

Eu gosto de ti e não digo nada.
Mas só porque meus olhos já entregam tudo.
Eu gosto do jeito que a gente anda junto,
eu tropeço e tu segura meus tropeços.
Gosto de escutar teu riso abraçando o meu.
Tu é o único que descontrola meu riso, o meu ser pensante inteiro.
Parece que sabe, que teu riso floresce em mim uma primavera inteira.
Mas tu está tão constante. Constantemente indo embora.







"Só eu sei a sensação boa de olhar o teu sorriso e sorrir  junto. É estranho, mas adorável. Só eu sei o tamanho da paz e luz que eu vejo nos teus olhos azuis. Pisquei e de repente você tava lá com um espaço enorme dentro do meu coração. Pode parecer clichê e realmente é, mas que você tem um espaço enorme dentro do meu coração, você realmente tem. É maior que admiração. É maior que desejo. É além: é alma."

Poderíamos


Sentirei falta de um sorriso teu, ali.
E de sentir teu cheiro.
Sentirei falta de fazer o café da manhã enquanto te ouço cantarolar.
Sentirei falta de sair pra andar, de mãos dadas, pra um lugar qualquer.
De um jeito que pareça que não há a necessidade de voltarmos, porque nos bastamos para nós mesmos.
Sentirei falta da convivência com teus defeitos.
E de te ouvir reclamar dos meus. 
Sentirei falta de você no meu futuro, e pra sempre.
Sentirei falta de todas as belas coisas que poderíamos ter sido.









I will wait

Pelos velhos vividos tempos,
curtos e poucos momentos.
Pelas lembranças lidas
e as histórias relidas.
Pela esperança ainda palpável,
de um amor frágil e afável.
Pelos teus sorrisos contidos
que me vêem antes de mim,
aqueles que saem meio sem querer,
que tu meio que deixa escapar pelo canto da boca.
Por eles.
Por tudo.



Que tu não esqueça que
cada vez que me vês distraída, lá no banco Enófrio,
sorrindo pro ar.
Olhando pro céu, pro chão, paixão,
é em ti que estou pensando.

Eu só quero.
Quero que todo e qualquer divertimento seja movido por ti,
por tu e eu somente.
Eu só quero
que se for pra ouvir um choro, que nunca seja o teu.
E quando alguém for a causa do meu, que não seja tu.
Eu quero o barulho da tua unha tamborilando na mesa da cozinha, 
enquanto espera.
Eu quero tu dizendo "Eu acredito em você menina", 
cada vez que te conto um conto.
Quero as tuas segundas opiniões sobre tudo. E quero que tu queira as minhas também.
Adoro falar sobre a tua vida, conforme-se.
Quero tu olhando nos meus olhos de um jeito sério,
que ri, que conforta, que embala, que diz;
Eu quero tu chegando em casa atrasado porque saiu pra correr.
Eu quero que tu nunca me peças pra esquecer.
Quero tu jogando as minhas coisas inúteis fora
e me oferecendo novas boas lembranças.
Quero reparar nos teus detalhes, naqueles poucos que ainda não reparei.
Nesses teus detalhes estúpidos (e lindos) em que meu coração está se perdendo,
partindo. Partindo sozinho.
Eu quero tu, sendo tolo o bastante pra me amar também.








Com cansaço
me desfaço
de tudo que de ti
em mim ficou.

Espero mesmo
mais que espaço
de tudo que por ti
em mim zarpou.

Vejo agora
com demora
que de mim pouco ficou.

Espero mesmo com cansaço
o pedaço de ti comigo
que ainda não buscou.

You Have My Heart

'but you also have my
breath caught in my
lungs.
each bone in my spine
each bone in my body.
every  muscle aches and surges without you.
you have so much more than my heart.
you have everything it keep alive.'

Pelo Interfone

'Fala pra ele
que ele é um sonho bom,
que mudou o tom da tua vida
comprida.
Fala pra ele
do disco do Tom Jobim,
do seu apelido e de mim
e chora.
Ah se tu soubesses como machuca,
não amaria mais ninguém.
Fala pra ele que a vida é um balão,
pra cuidar do seu coração
e chora.
       - Pra onde elas vão?
       - Embora.
Ah se tu soubesses como machuca,
não amaria mais ninguém.
Fala pra ele o que nunca falou pra ninguém
pra ele também.'
"Sinto tanto, por você sentir tão pouco"
A nossa história de amor,
nunca foi sua.
Foi só minha, mas
o que é meu me basta.
Ela foi a melhor história de amor,
de amor que não acontece
(e que tinha tudo pra acontecer)
e devia acontecer,
do universo inteiro.
A minha historia de tentar
transformar-me em 
nós.
You don't know how lovely you are
Olho na tua direção.
Busco pela tua atenção.
Procuro em teu coração
algum espaço, uma constelação.

Nunca vês minha reação,

revira os olhos, sem nenhuma afirmação.
Traz enorme aflição
não saber quem te tem o coração.