O Amor Acontece Assim

O amor acontece, assim. Assim, sem noticiar antes. Numa esquina, por exemplo. Em um sábado chuvoso em que os planos nem incluíam sair de casa; na fila da lanchonete, na escolha aleatória de um café; no meio de uma multidão; depois de um dia triste, no banco de um jardim; de repente no meio da fumaça, tu encontra alguém.
Acontece também por causa de cinco minutos de atraso, que consequentemente te levam a passar na mesma rua de sempre cinco minutos depois ou por uma parada na banca de revistas. Numa insônia estranha que te leva pra fora de casa de roupão e chinelos de pano; entre o creme e a baunilha, na sorveteria da praça;  na parada brusca do elevador; na fila da vacina; nas poucas sílabas distantes em uma reunião; num pequeno hotel no sul da Itália ou em alguma rua empoeirada de Dubai. Ali o amor pode ser, acontecer, ter fim e ressurgir.
Simplesmente, em um domingo de sol na beira da piscina; entre o pólen das flores; na compra de um ar-condicionado; no quinto museu do roteiro de viagem; no ônibus; na primeira viagem de trem, na segunda, quem sabe até na terceira; numa sala pintada com tinta esmaltada; num momento desesperador; no meio de um ataque de soluços (que se enquadra perfeitamente em um momento desesperador); na conjugação errada de um verbo; no mar gelado; no florir da primavera; na manhã do dia três de agosto ou no entardecer de trinta e um de janeiro; numa sala de espera; num olhar curto; no momento em que um riso te desarma, não importa.
O amor é sempre tão você-não-tem-o-direito-de-escolher. E não tem mesmo. O amor acontece, assim. Assim, sem noticiar antes.

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