I

Me tenho.
Faço pouco dos que dizem muito.
Aprisiono o tempo no pulso - ninguém vê que o relógio já parou faz muito.
Arranco o que possuo para depois ter o trabalho de me refazer.
Escolho não lembrar
e assim parece nunca ter acontecido.
Ando com a pressa de todos os passos
na esperança de esbarrar com você,
mas você não chega e os tropeços já são muitos
e deixam marcas, uma após outra.
Já não sinto mais nada.
Desisto.

II

Insisto.
Inspiro o ar da rodoviária enquanto meus olhos te procuram e
por mais inacreditável que possa parecer finalmente te encontro.
Tu sentas ao meu lado e espera que agora
eu te acompanhe por tempo indeterminado.
Não eras quem eu procurava,
mas naquele momento eu não sabia disso.

III

Eu coloquei culpas em você que eram minhas.
Todas as músicas que tocamos sempre pareceram
melhores sem mim, mesmo que nunca tenhas me dito isso.

IV

Um mês e eu amei partes de mim que desconhecia.

V
Corremos da Barra Sul no final da tarde,
eu tinha algumas certezas, sabia que estava atrasada.
Parecia que eu corria em direação a algum lugar.

VI

Todo passo que eu dei ao teu lado me levou
lentamente para longe de ti.

VII

Os dois andares da loja, a moldura no espelho,
o terceiro andar no prédio, a tv antiga dentro do armário
e o medo de não ser o suficiente.
O medo foi nosso maior vínculo.

VIII

Três meses e chegamos ao início
do fim.

IX

As suas mãos se agarraram aos meus braços e
deixaram marcas enquanto as minhas te empurraram.
Vivemos o pior dos meses, feito de feridas que abrimos
no outro repetidas vezes até não sobrar nada além de
um aglomerado de arrependimentos.

X

Eu quero te dizer o que foi bom
e transcrever em um poema
mesmo que pequeno
para provar pra mim
e pra você
que eu nunca fui tão ruim assim.

XI











XII

Ele caminhava olhando atentamente o chão
como se a calçada fosse arte.
Ele cruzava os braços quando não tinha mais o que dizer.
Era o que eu sabia sobre ele.
Éramos nós dois e tínhamos apenas cinco minutos.
Tínhamos cinco minutos mas eu queria que fosse a vida inteira.

XIII

O ano era novo
e eu estava vestida de um sentimento que não existia.
Não percebi que o teu abraço entre o meio-fio e a calçada
foi melhor que a queima de fogos.

XIV

Ele me trouxe a felicidade que eu não conhecia,
me deixou três fotografias e um querer
de mal caber no peito.

XV

Por seis meses chorar
foi como respirar.

XVI

Senti falta de mim.
De ser eu quando estava contigo.



XVII

Em um final de tarde de inverno
encontro no meio dos pinheiros,
no vento gelado que me corta o rosto e
nos bolsos do casaco.
Encontro ali e aqui o que deixei que levassem.
Me sinto novamente
parte por parte.
Inteira.
Encontrei-me.

XVIII

É como sempre me contaram o
amor à primeira vista.
Você o vê e sabe que vai amá-lo.
Sabe que ele tirará de ti todo o fôlego
e que mesmo com a falta de ar
você vai querer continuar amando.
Só espera agora
que ele te ame também.

XIX

Eu te amo com toda a minha força
a mesma força com que tu
diz olhando nos meus olhos
que me ama também.
E eu duvido muito que exista
felicidade maior do que essa.

XX

Amar você
é a descoberta
da melhor parte de mim.