Vergonhoso o fato de querer-te presente.
De perceber que uma simples e distante presença me faz feliz.
Engraçado ver que conforme passeias de modo disfarçado para longe de mim
conforme se aplica na busca desenfreada pela fuga
Me arrasta contigo
Me deseja presente.
Longe.
Acho feliz.
Feliz decisão.
Essa de me ver encolhendo.
Abraçando-me por dentro numa espécie de contorcionismo doentio.
Fingir um certo 'importar' com minha dor.
E seguir em frente.
Motivo. Nenhum aparente.
Seria a sua eterna busca pela felicidade.
Tão superestimada.
Felicidade.
Apenas felicidade.
Enjoa.


A capacidade de ter sentimentos opostos.
Aleatórios.
Desconexos.
Sobre tudo.
Sobre você.
Querer a preocupação dos outros.
Querer que se importem.
Mas querer também afastá-los.
Todos.
É como pedir a chave da cela e logo em seguida jogá-la pela janela.
É não gostar de estar presente e nem de não ser lembrada.
É não amar alguém até o momento em que ele diz adeus.
É mudar pra agradar mesmo desprezando-se por isso.
É detestar-se por ser tola e frágil
mas não sentir a necessidade de ser forte.
A estranha capacidade de ser.





Vou me entregar a vocês
Vocês estão me devorando por dentro.
Tentando-me a imaginar ser algo que não sou
que não posso ser.
Me fazem companhia nas noites frias.
Dormem sobre meu peito.
São tocados pelas minhas mãos todos os dias.
Estão constantes.
Escondidos.
Perdidos.
Nas estantes.
Nas gavetas.
Esquecidos no consultório do dentista.
Sinto a ausência.
Depois de usados. Virados e revirados.
Esqueço-lhes nos cantos.
Livros são como pessoas.





Da pra você me esperar?
Da pra dar um jeitinho?
Acalmar.
Aguardar eternamente se possível.

Quero te acompanhar.
Só que não sei onde estou.
Vou ter que correr pra te alcançar.
Acabar com meu combustível de amor.


Procuro você nas esquinas.
Abro portas e encontro o escuro.
Topo com janelas abertas.
Caio três vezes.
Levanto mais três.

Onde que fica a sua sala de espera?
Vou ter que me recompor antes de te encontrar.





Acordar. Olhar no espelho.
Ter alguém ali
te olhando com cara de poucos amigos.
Com cara de "me tira dessa monotonia exagerada!"

Andar. Olhar ao redor.
Não ver ninguém.
Andar devagar, enquanto seus pensamentos atropelam seus companheiros.
Machucam quem se atrever a atrapalhá-los
Te fazem sofrer por querer abandoná-los.

Parar. Fechar os olhos.
Tentar cegar os pensamentos.
Tentar enganá-los.
Errar de propósito.
Procurar um meio para que eles esqueçam de você.

E se eles esquecerem.
Se teus próprios pensamentos te abandonarem.
Que vai ser de ti. 
Já tão sozinha.
Tão perdida em si mesma.
Tão constante nesse sentimento barato de querer se encontrar.


Melhor deixar eles por aqui.
Segurá-los com força.
Sem eles serias só uma boneca sem alma.
Pense.
Mesmo que te doa o coração.
Pra evitar a todo custo a sensação
de se olhar por dentro e não achar ninguém.

Fique onde você bem quiser.
Esteja onde queira estar.
Mas antes de ir.
Sair daqui.
Deixa um bilhete.
Faz um mapa.
Assim, simples, fácil.
Nem legenda precisa ter.
Só um meio pra eu poder te encontrar.

Prometo não te atrapalhar.
Faço pequenas visitas.
Rápidas.
De dois em dois meses.
Ou a cada duas horas.
Se te parece muito, já planejo uma linda história.
Pra tu esquecer que estou ali.
Esquecer de me mandar embora.

Se me ouvir não te agradar
posso te levar um presente.
Um cabide.
Agora não há desculpas pra não me encarar,
pra não ficar do meu lado.
Ali sentado, na beirada do sofá.

Quando chegar a hora de ir embora,
me despeço de você e
sorrateiramente me dirijo lá pra um canto.
Me transformo em peça de roupa.
Você me acha, não me reconhece,
me pendura no cabide.
Fico lá no armário escuro.
Dentro do teu quarto.
Daí só me resta rezar, pedir, implorar.
Pra de vez em quando a porta do armário
você esquecer de fechar.



Caso teus sonhos sejm maiores que os meus
Caso tu possas realizá-los.
Caso tu não morras antes disso.
Caso não te deixes cegar nos supéfluos do caminho.
Me escute.
Não te escute.

Se teus sonhos forem bons pra mim também.
Concordo.
Se caso eu estiver em todas as tuas estranhas visões.
Solidifica teus sonhos.
Desfaz as nuvens dos teus pensamentos.
Torna real.

Caso tu venhas a casar com alguém que não seja eu.
Que no seu futuro não exista o nós.
Fique aí.
Parada.
Tranque a porta da tua mente.
Não solidifica teus pensamentos.
Deixe as nuvens trancadas.
Que te façam cócegas por dentro.
Não me importo.

As Rosas no Vestido Azul

Não gosto do modo que tu me tomas os meus pensamentos.
Todos os dias só o que eu  espero é não pensar.
A cada pensamento que me ocorre me cubro de lágrimas.
De saudades.
Acho por isso melhor não pensar.

Tenho apenas pensamentos ilusórios.
Quase sonhos ininterruptos.
Tenho apenas diálogos inventados.
Que me imploram que os torne reais.

Cautelosa que sou com o que sou.
Sabida da geometria dos meus próprios pensamentos
de cada ângulo interno e aleatório de minhas doces e atrapalhadas decisões.
Adivinho que o melhor pra mim seria o ato de me calar.
Calar pensamentos.
Abordar os pensamentos antes que eles saiam de seus respectivos cantos.
Antes que se instalem em minha paredes interiores.
Se fixem em mim.
Como pedra pesada, difícil de carregar.

Fraca e cheia de falsas paredes interiores que sou
instalo-me nas esquinas.
Estática.
Satisfeita com passatempos.
Pensamentos pendidos. 
Com um ar de mulher desprendida.

Mal sabem eles.
Vocês.
Que me observam.
Que o desprendimento não existe.
As rosas no vestido azul não perfumam.
Que o tempo pra mim não é passatempo.
Que a cada parada estática recebo um novo pensamento.

Caso alguém pergunte no que é que tanto penso.
Penso.
Penso que apenas tento não pensar.