Havia o medo da partida desde o primeiro encontro.
Sempre pairou desconfiança - porque era perfeição demais.
Combinavam em tudo.
Tinham as mesmas feridas
- que conseguiram cauterizar ao mesmo tempo
ao primeiro olhar.
Compartilhavam emoção, brisa, vento, vendaval.

O cenário todo simples.
Nem mais nada era necessário.
Sequer plateia.
Estavam sós e nem precisavam dizer isso aos outros
- o que por si só é prova de maturidade.

E apesar de tudo tinham medo.
Medo da falta de obstáculos.
Medo de não sofrer, ou de temer que o sofrimento viesse.

A cada dia passeavam por uma linda alameda
que conduzia a outra, ainda mais bela.
E, a cada dia, a insistência da paisagem provava que estavam
errados.

Se a atração dos opostos é regra, eles eram a definitiva exceção.

E mesmo assim, cada um a seu modo,
auguravam algum antigo ensinamento
de que tempestades são sempre visitantes sem-cerimônia.

Prosseguiam, sem incomodar o sonho alheio,
mas de certo modo sem conciliar o próprio sono.
O tempo, ainda bem, mostrou que de fato estavam errados.

                                                                     

Das perdas

A angústia de pensar que eras parte de mim e partirias.
Dentre as partes eras daquelas gigantes, ocupava um lado inteiro daqui de dentro.
Aos poucos a angústia de perder-te perdeu forças para a ansiedade, a ansiedade de ter-me de volta.
Ganhar de volta o espaço que tu ocupava e poder preenchê-lo com a felicidade que mais me enternecesse, seja ela qual fosse.