Eu te amo e se pudesse te amaria em outra vida. Na próxima e na anterior.
Nasceria contigo em tantas vidas quanto fosse possível, até passar da cota de vidas juntos e se a cota não existir, melhor ainda, que então seria uma eternidade de vidas contigo e preciso de todas elas pra te conhecer inteiro; cada canto desse teu que se junta tão bem ao que é meu.
Quero descobrir tuas manias vida após vida, aceitar teus defeitos dia após dia, te ver cantando com olhos fechados tuas músicas preferidas em todo final de ano e conhecer tuas músicas preferidas daqui mil anos e dividir contigo as minhas - e te mostrar que não importa quantas vidas passem, sempre vou conhecer mais músicas do que tu.
Quero te ver jornalista e escrevendo teus poemas em uma mesinha de frente pra janela, enquanto chove lá fora, em uma manhã de primavera. Quero nascer contigo no norte do Brasil, passar calor o ano inteiro, deitar na rede no domingo e saber tocar acordeon. Quero outra no interior da Itália, com plantação de flor na frente de casa e janela de madeira meio lascada. Quero uma na Índia, nessa vamos nos conhecer na infância e o amor surgirá por circunstância. Em outra vamos morar no Japão e reconhecer um ao outro num esbarrão, em uma daquelas faixas de segurança cobertas pela multidão.
Quero nascer em todos os lugares do mundo contigo, ouvir tua voz falando rápido em todos os idiomas possíveis e repetir toda vez pra tu falar mais devagar e lembrar toda vez que tu parece o homem no comercial do remédio que diz "este medicamento é contra-indicado em caso de suspeita de dengue" e sempre pensar que nosso amor é completamente-indicado em caso (da menor) suspeita de encontro porque em cada vida que eu te encontrar,
na primeira vez que te olhar,
tudo em volta vai parar
e assumir outro lugar,
esse é o sinal que a vida vai mandar,
dizendo sempre
que tu foi feito pra eu amar.
feito enfeite
me decora
por dentro e por fora
me ancora
em mar aberto
me traz pra perto
colore céu, colore estrada
faz do abraço minha morada


Eu e ele nos fundimos como iguais
Mas ele é vento, ventania que arremessa
Eu sou brisa suave, sem nenhuma pressa
Ele é faísca que lampeja
Eu, chama de vela, no máximo meio acesa
Ele é acorde diminuto que não tem resolução
Eu, acorde dissonante à procura do tom
Ele é arranha-céu, minha morada pra vida inteira
Eu casinha de esquina, daquelas bem pequenas
Eu e ele nos fundimos como iguais,
sem lembrar das diferenças,
essas que nos tornam um para o outro ideais.

o medo que você carrega


- e o medo que você sente
não é medo que você sente
é só culpa do que nós compartilhamos
e quando você no meio da noite
se esconde dentro de si
acaba por perder o que é bonito
no início da manhã
e me perde
e me perco
do motivo de estar ali
então deixa isso em algum canto
algum com vista bonita
se encontre dentro de si
me encontre dentro de ti
permaneça dentro de mim.-





contruímos cada um
um mapa
o meu te leva a tua parte
o teu te leva a minha
ele inteiro nos leva a algum lugar
e entre uma volta e outra
nos leva ao encontro um do outro

tu és a minha nova síntese do mundo



tenho ouvido para o descabido
pra tudo que atormenta por dentro
e atinge o peito, no centro
pra tudo que confunde e me funde
contigo, me inunde

ouço cada palavra tua
si la bi ca men te separada
gramaticalmente acentuada
foneticamente atormentada

ouço o gesto teu
que rima hora ou outra com o meu
ouço o que tu me escondeu
o último sorriso que tu me deu

ouço teu passo incerto
que traz pra perto
o que há pouco foi descoberto
e assim me conserto
no concerto que é ouvir que tu existe.








espero
e me desespero
em algum descuido
me despercebi
quando te vi
não gosto de como me perco fácil
quando alguém me encontra





tocar teu rosto
é igual fechar os olhos e sentir o vento de fim de tarde
é como sorrir depois de chorar por muito tempo
ou como quando a luz volta depois de horas no escuro.
é cesta de três pontos no basquete e
gol do Brasil no final do segundo tempo.
é segurar xícara de café com as duas mãos
e colocar casaco quente depois de andar na noite fria
é banho quente no inverno
e banho de chuva no verão
é pisar em folha de outono que estrala
andar no meio fio até o fim, sem desequilibrar
rodopiar a diagonal inteira do balé sem tontear
é noite de verão pra ficar de frente pr'o mar
é como deitar na grama em tarde ensolarada de inverno
olhar pela janela do ônibus quando tudo está deserto
analisar gente estranha de passo incerto
é ficar sozinho quando quer
ou ter alguém do lado quando precisa

(tocar teu rosto é quase tão bom quanto te ter comigo)








Conta pra ele da batida dissonante que é sentir a falta dele.
Do som que ressoa, ecoa
toda vez em tua mente
e que esse som é o da voz dele
e que a voz dele tem um tom que é o melhor que tu já ouviu.
Conta pra ele que sonhou com ele na noite passada,
mas que foi com os olhos abertos
enquanto atravessava a rua.
Conta pra ele que todo toque dele em ti te arremessa
do Círculo Polar Ártico ao deserto do Atacama.
Que quando ele segura a tua mão tudo em volta destoa
destona, se faz dissonante.
Conta pra ele que quando ele te abraça tu se sente deslocar por dentro
e que teu coração sai do compasso.

Conta pra ele.


Eu queria te entregar um milhão de palavras,
empilhadas, amontoadas, te soterrar delas até perto de cortar tua respiração.
Queria escrever elas em todos os muros no caminho da minha casa até na tua.
Acho que faltaria muro e faltaria palavra; mesmo pra mim que sempre me achei tão cheia delas.
Acabei por perceber que existe gente que é maior que qualquer palavra, gente que por si só é poesia, poema inteiro, daqueles com rima e métrica.
Gente que quando fala é mais bonito de ouvir do que um da Cecília Meireles, que quando encosta o toque, toca mais que um do Fernando Pessoa e que quando sorri estremece tudo por dentro, feito um dos sonetos do Neruda. Não sabia da existência de gente como tu, gente que não tem palavra pra explicar o que é sentir perto. Que faz parecer que de todas as palavras do mundo a mais bonita é substantivo próprio, com letra maiúscula em todas as quatro palavras do teu nome.