o movimento sutil que teus olhos fazem ao piscar
que causa estrondo grandioso aqui dentro 
um intervalo e outro de tempo
do tempo que teus olhos levam para observar

o som que teus cílios fazem ao encostar nos meus dedos
de algo que ecoa, ressoa
com força tal de uma luz, que destoa
e destona do quanto sinto por ti

o que acontece aqui destona do que já senti
destoa de tudo que já vivi
é algo que ecoa, ressoa
é desejo resoluto
mais forte que acorde diminuto
é amor, profundo e bruto




Se alguém estivesse escrevendo nossa história,
nós seríamos um romance, um romance que nem Shakespeare
no melhor dos seus dias teria escrito.
De uma margem até a outra nossos diálogos seriam em cor,
sem nenhum tipo de dor.
Em desatino por não poder trazer suas tragédias,
em menos de duas páginas ele desistiria.
Nossos personagens facilmente se ligariam,
feito nuvem no céu em dia de ventania.
Fernando Pessoa não conseguiria transformar-nos em
um texto sonoro o bastante, então, as páginas em suas mãos
teriam que ser preenchidas pelo som de cada palavra
que endereçamos um ao outro. Hora ou outra em verso e rima.
Machado de Assis ao tentar nos escrever acabaria por
desistir de espalhar a dúvida entre Capitu e Bentinho.
Escreveria um romance que ficaria conhecido pelas certezas.
Página após página ele construiria com palavras
a fortaleza que se cria em um encontro.
Um encontro depois de tanto desencontro.
Não falo desse desencontro feito pra filme da Sofia Coppola,
que te leva ou não para uma garagem num sábado à noite ou
que te faz ou não conseguir uma carona para viajar - esse desencontro que faz
ou não um ao outro, encontrar.
Falo do desencontro da gente com a gente mesmo, esse que te faz esquecer
por qual caminho tu quer passar, que te arrasta para um lugar
em que tu não quer estar - porque quando a gente se encontra primeiro em si,
consegue então exergar no outro o que sempre quis encontrar.
Por isso digo que se alguém estivesse escrevendo nossa história,
nós seríamos um romance, um romance que com certeza
nem Shakespeare no melhor dos seus dias teria escrito.






estive em ti por tempo demais
me perdi em mim, tanto tempo faz
guardei o que tu foi 
cada canto que pisei 
em terra e mar 
na minha ilha de edição particular 
minha memória, fez eu te lembrar 
e assim como chegou 
também partiu

você era um tipo de luz
que só refletia
um tipo de grito
feito para as multidões
você era um pássaro de papel
feito para abater
era praia
sem nunca escurecer
e hoje que não és nada
e nem deixasse de ser
deixo ressoar por dentro
o que eu, sozinha, escolhi ser