Eu não acreditava que tu chegaria.
Afirmei por um bom tempo e com muita convicção, para o vento que quisesse ouvir. Porque não havia o que pudesse tirar de mim o emaranhado todo onde havia me colocado, era raiz demais, de memória demais, era terra demais, água demais, de choro demais e que de tanto demais já não era mais meu, já nem era mais eu.
Eu não acreditava que tu chegaria.
E por não acreditar, acostumei, conformei. Permaneci no emaranhado aqui de dentro.
Fiz dele casa. Morada pra viver de sonho que não acontece. Tranquei por fora e por dentro janelas e portas, pra impedir qualquer sinal de sonho novo.
Eu não acreditava que tu chegaria.
Enquanto eu me encarava no vidro da janela do ônibus, aquele das 17:40 que se atrasa toda vez - que no fundo gosto de pensar ser um atraso proposital, porque o motorista sabe, assim como eu, que se ele não atrasar não consegue pegar os últimos raios de sol, uns que refletem bonito, feito em cena de filme do Spike Jonze- ou enquanto eu escolhia o terceiro banco da fila da direita, porque de lá da pra ver o pôr-do-sol por mais tempo, entre um afastamento de montanha e outro.
Ali também eu não acreditava que tu chegaria. Não acreditei até o momento exato da chegada.
Porque ali não teve espaço pra acomodar dúvida. Porque era. Deu pra sentir por dentro e por fora.
O emaranhado sentiu também, perdeu espaço e saiu pelas portas e janelas que se abriram. E o que era meu voltou a mim. E o que era teu ficou em mim. E preencheu e se alastrou por dentro.
Eu não acreditava que tu chegaria, mas ainda bem que tu chegou.

Tirei a batedeira da bolsa pra colocar eletrodoméstico ainda mais pesado no lugar.