Todos os dias, como que num acaso constante e interminável,
jogam você em cima de mim.
Sem piedade, sem medo,
explicações ou pretextos.

Aguardo algum movimento seu.
Permaneço no eterno "ele vai levantar sozinho dessa vez?"
Fico entre o sim e o não.
Como se o tempo não importasse,
e o agora de nada valesse.

Estabeleço um horário para sua decisão.
"Das 8 às 18?" lhe pergunto.
O silêncio como resposta.

Me dizem que é um tempo perdido.
Que é muito tempo perdido.
Muito tempo pra perder todos os dias.
Muito tempo perdido com uma só pessoa.
Mas é exatamente o que eu precisava: tempo perdido

Preciso perder o tempo que já é perdido.
Perder o tempo em que estaciono, vendo o lado desinteressante das pessoas.
Perder o tempo em que cultivo sentimentos estranhos.
Perder o tempo em que sou impaciente
Perder o tempo em que não sou capaz de domar meus pensamentos tolos,
           ou apenas me abster dos rótulos.

Assim em vez de tanta perda de tempo.
Aguardo apenas você levantar.







Enquanto sou medrosa,
ele é persuasivo.

O que pra mim é azul turquesa,
pra ele não passa de um leve azul esverdeado.

Eu prefiro o doce.
Já ele o salgado.

Eu quero alguém pra me esquentar na chuva,
ele quer pegar um sol.

Hoje eu tentei voar.
Até cheguei bem alto,
peguei duas ou três borboletas.
Descuidei.
As borboletas fugiram.
Rodopiei,
Cai.
Cai no colo dele.
Matei ele.
Mas pelo menos agora tenho certeza que é azul turquesa





Do que adianta a roupa bonita
Se desbota.

Do que adianta sonhar dormindo.
Se acorda.

E naqueles sonhos de agonia estarrecedora.
Decadentes.
Com sangue, cacos, e corações partidos.
Tudo misturado.
As cenas do filme da noite passada.
Memórias e lembranças.

A menina sacode as mãos na esperança de acordar.
Sair de lá.
Ela só tem é muito medo de desbotar.





À Flor da Pele

Inventa um modo de me calar.
Não quero mais discutir.
Inventa um modo de me calar por meio segundo que seja.
Não precisa nem fundir seu amor com minha arrogância.
Só me cala.

Cria uma arma pra me atingir e me levar ao chão.
Não posso mais fingir que não é disso que preciso.
Cria uma cela que me prenda a realidade.
Não posso mais viver livre como o tempo.

Improvise uma resposta pra mim não perceber quando estou certa.
Jogue-me na cara cada erro meu, sem eufemismos, sem restrições.
Não ouse dizer "todos erram, é natural"
Quero respostas que doam como tapa na cara.
Quero sentimentos á flor da pele.
Quero verdades


Glórias e Histórias


Porque no futuro quem sabe.
Com todas aquelas mesmas histórias.
Todas as glórias.
As mesmas datas e dias contados.
Só que sem pressa.
Sem cobrança.
Porque no futuro quem sabe.
Você ainda se lembre de como é amar.






Descrença



Peço uma pizza.
Entrega ás quatro horas.

Você.
Faça-me um favor.
Marque um encontro comigo ás três.
Na sexta-feira dia treze
Na esquina da descrença.

Já pensei em tudo.
Vai ser muito simples,
Vou me transformar em dez.
Cercar todo o lugar
Observar
E com um golpe só, ver tudo acabar.

Volto pra casa feliz 
Deito na cama.
Olho o relógio.
Quatro horas.
Dim Dom.
Abro a porta.
O rosto do menino entregador entra em um tipo de espanto eterno
Não entendo.
Estendo minhas mãos em busca da caixa
Eis que mãos ensanguentadas estão sobre a caixa poligonal.
Ops, penso eu
Esqueci de lavar

Ciclo Vicioso

Vai lá seguir o ciclo.
Caminhar atrás de alguém.
Apertar o passo pra não se perder.
Não correr, pra não se cansar.

Para. Pensa. Modifica. Reage

Para de andar, deita no chão.
Descansa se preciso.
De olhos abertos que é pra não dormir.

Não era esse o seu medo?
Dormir
Perder tempo
Parar de perseguir os outros.
Como se fosse roupa de vitrine.
Que você olha, gosta, e depois não para de olhar.
Deixa a roupa lá se você não quer comprar.
Ou pega de uma vez, antes de outro te passar.

Para de perseguir os outros.
Tenta um pouco de distância.
Para de seguir grudado.
Deixa um pouco de lado.

Não namora a roupa da vitrine.
Namora só a roupa que já é sua.