Faz pouco mais de três anos que eu encontrei o Sr. Piano pela primeira vez. Ele se escondia no fim de um corredor, sobre um assoalho escuro de madeira que exalava cheiro de cera. Sr. Piano também é de madeira e tem cheiro de quem já viu muita coisa. O corredor cortado por uma escada se escondia entre os andares silenciosos do prédio de paredes cor de creme. O prédio com paredes cor de creme e porta de ferro se escondia entre os outros prédios, bem no centro da cidade.
É tanto esconde-esconde que ainda hoje me pergunto como foi que consegui encontrá-lo. O negócio talvez é não estar procurando nada.
Não lembro se foi em uma manhã ou tarde que o encontrei, mas sei que fazia frio, era um desses dias apagados em que o nublado do céu é tão nublado que acendem os postes da rua mais cedo.
Lembro do som das buzinas do lado de fora e o silêncio dos corredores no lado de dentro.
Passo apressado nas escadas, degrau após degrau, 72 degraus e quem subiu um lance a menos de escada nunca o encontrou como eu. Isso me faz pensar nas coisas que perdemos com decisões simples. Dez degraus pode ser o que nos separa de grandes tesouros.


Nenhum comentário:

Postar um comentário