Querido.

Não minto, querido, quando digo que ainda te quero bem.
Depois de todos os cafés e sinaleiras fechadas,
dos dias cheios e dos dias vazios,
depois de todo o tempo, ainda te quero bem.
Uma semana da tua partida, percebi entre a dobradiça da porta do armário e a porcelana da xícara de natal, como que esquecido de propósito, o sentimento demasiado, vasto.
Era o meu amor diminuto; feito lampejo, relâmpago,
que cai quinhentas e oitenta e cinco vezes no mesmo lugar,
quinhentas e oitenta e cinco vezes no mesmo olhar
e na mesma mão por sobre o ombro.
Entre um suspiro e o seguinte me veio teu tropeço,
aquele que acrescentou milhões de pontos ao teu charme paradoxal.


A memória é mesmo então uma ilha de edição.
Mas onde se armazena a cor e o ruído de cada instante?
Como se guarda o cheiro do abraço amarrotado?
Ninguém nos ensina
e resta-nos então, respirar o irrespirável.
Relembrar o inevitável.
Relembrar hoje, amanhã e outras quinhentas e oitenta e cinco vezes, porque tem sentimento que é assim, não dá pra abreviar.

Tua companhia foi melhor que a queima de fogos no ano novo.



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